segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Voltou pra Ficar


Não me lembro do canário-da-terra-verdadeiro (Sicalis flaveola) antes da sua nova ascensão. Sabia da sua existência apenas em viveiros e gaiolas. Foi considerada uma espécie quase que extinta por aqui, no sul de Minas, muito visada e caçada devido ao seu grande apelo canoro e principalmente, pela sua linda plumagem amarelada, exclusiva do macho. É considerada entre as 10 mais apreendidas segundo relatórios do IBAMA. Tal característica marcante do amarelo lhe rendeu o posto de mascote da seleção brasileira de futebol com o slogan "seleção canarinho", muito bem explorado pela seleção de 1982.

Seu desaparecimento na época, deu-se por conta também, da intoxicação pelo uso abusivo de agrotóxico nas lavouras, já que o canário-da-terra é  uma espécie granívora, ou seja, alimenta-se de sementes, especialmente sementes de capins. É muito comum vê-los se alimentando em capinzeiros e pastagens de beira de estrada junto às coleirinhas, bigodinhos e tizius. Houve um tempo, em alguns lugares do sul de Minas que a lavoura de arroz foi dominante nas áreas mais alagadas. Talvez ali, tal fato foi preponderante para o desaparecimento da espécie devido ao uso do roundup glifosato.

No entanto, o fato é que o "canarinho" voltou, e com força total! A ponto de ocupar e disputar espaço com o pardal! Suas populações têm aumentado exponencialmente, principalmente em locais de grande movimentação humana nas zonas rurais onde o manejo de criações tornou-se o seu principal reduto por conta do trato de animais a base de grãos.

Nas cidades, sua movimentação é mais discreta, porém já se ouve em qualquer esquina. É comum acordar de manhã e passear pelas ruas e avistar um casal se alimentando.

O que o trouxe de volta? Em minha região, a uns 10 anos atrás, dificilmente se via canários nas cidades. Avistava-se eventualmente nas zonas rurais. A uns 20 anos então, não se via em lugar algum. As pessoas foram criando em cativeiro com o intuito de soltá-los gradualmente, principalmente proprietários de terra e donos de xácaras que aderiram à ideia e foram disseminando-a. O bicho foi se espalhando para todo canto com uma capacidade de reprodução incrível e grande habilidade em ocupação de espaço, basta pendurar uma cabacinha que logo já se vê uma fêmea fazendo o reconhecimento da futura chocadeira. 

É bem verdade, as Leis punitivas foram ficando mais rigorosas, embora ainda bem longe do ideal. O canarinho é tão querido que hoje se teme o fato do sujeito ser "dedurado" caso opte por caçá-lo e criá-lo em gaiola.

Segundo relatos de pessoas mais velhas, que já viveram o auge da espécie em outras épocas, o canário-da-terra de hoje voltou do cativeiro um pouco modificado em relação aos seus hábitos originais. O canário de hoje tem hábitos bem mais gregários, certamente por ter sido criado aos montes em cativeiro. Inclusive, segundo relatos desses mais antigos passarinheiros o seu canto voltou um pouco modificado. O fato é que ainda assim, já consegui ver disputas acirradas de machos por fêmeas em períodos reprodutivos onde é muito comum ver casais separados do bando.

Sua ocupação ostensiva não gera impacto, muito pelo contrário, é possível perceber o quanto a sua ascensão ajudou a controlar o ímpeto do pardal e das pombas, equilibrando assim as populações da avifauna urbana e rural. A presença do canário-da-terra nos inspira felicidade! Ao ouvi-lo solto nos dá a sensação de paz, pois sua presença purifica o ambiente de beleza e nos remete ao campo, em plena selva de pedra.