sexta-feira, 21 de maio de 2021

Versos de Sabedoria

 

O Gambá

 

“Me chamam de agourento

Desajeitado, feio e fedorento

Me chamam até de rato

Mal sabem o que sou de fato

É bem verdade, trabalho de graça

Nem de longe sou uma ameaça

Gosto da noite, portanto sou discreto

Ninguém vê como gosto de inseto

Planto árvore, pois gosto de fruta

Ainda assim, carrego a fama de biruta

Ah! Como é ruim ser incompreendido!

Mas depois destes versos, quem sabe serei correspondido.”

 

Fernando Capela





quinta-feira, 20 de maio de 2021

Em tempos de pandemia podemos refletir na seguinte ideia...

Herança Darwinista?

Durante o século XIX, a igreja ainda sobrepunha os conhecimentos da sociedade e eis que surgiu um homem devoto a Deus e que naquele instante quebraria um paradigma importantíssimo da história. Charles Darwin foi o naturalista britânico que a bordo do Beagle (navio enviado pela coroa destinado a mapear o hemisfério sul) durante quatro anos e nove meses de viagem colocaria posteriormente em xeque a supremacia da Igreja e o criacionismo como única teoria viável possível da formação do universo. É bem verdade, o século XIX foi a ruptura de um mundo sedento por mudanças drásticas. Foi o século divisor de águas para que a humanidade abandonasse de vez as trevas para entrar na modernidade, o que foi designado o“Século das Luzes.”

A ciência e a filosofia tomam conta do cenário junto ao ápice de uma Revolução Industrial a todo vapor, literalmente! Darwin em seus experimentos e abordagens vividas a bordo do Beagle levaram no, a compilar os dados coletados na publicação de um livro, lançando em 1859 “A Origem das Espécies.” Livro este que explica a teoria da evolução, que para época um escândalo cultural e para crença vigente. Sendo assim, Darwin foi considerado como “O Homem que matou Deus!”

Interessante frisar que Darwin nunca abdicou de suas crenças, como naturalista e cientista nato simplesmente levou a fundo os seus estudos.

Com Darwin aprendemos que as características adquiridas são herdadas por um processo que ele ainda desconhecia. Era ciente que os mais aptos sobreviveriam passando os seus dotes para as futuras gerações. Os mais fracos padeceriam diante um mecanismo evolutivo chamado de Seleção Natural. Na visão de Darwin, a natureza era hostil. Só os fortes sobreviveriam em detrimento aos mais fracos numa competição sem precedente. Darwin analisava a espécie como indivíduo, que de certa forma, aliada a ascensão da Revolução Industrial moldou a personificação de um homem competitivo e individualista para os anos e décadas posteriores. Tal fato, deflagrou o sistema capitalista insustentável e potencializou um ser humano egoísta e ganancioso.

Vale ressaltar uma semelhança com a teoria Marxista da problemática, no entanto, a ideia de indivíduo aqui neste texto retratada exclui a visão política/econômica ideológica, pois remete a espécie humana como um ser biológico e sua conduta moral.

Darwin não previu e nunca imaginaria, considerando a sua importância e legítimo legado para a história da ciência moderna que o homem do século XX e XXI transformasse o planeta Terra num caos. O nosso sistema se tornou a própria selva, onde a seleção natural proverá para aqueles que estiverem mais aptos a competir. As escolas preparam as crianças para serem competidoras e não pessoas. Desde muito cedo nos foi imposto para a individuação (“EU”) em detrimento ao coletivo.

A vida nas cidades tornou-se o ambiente hostil da selva onde só os fortes se destacam, produzindo finalmente uma imensa massa desempregada, desabrigada e desamparada.

Nós seres humanos, assim como todos os seres vivos, somos compostos por células. Estas se compartilham para definir um organismo, assim se fez a diferenciação de um ser unicelular para pluricelular. Num ambiente totalmente turbulento de formação da Terra, da vida, a união fez a força, as células se juntaram! Temos e devemos ter a predisposição para o coletivo ao analisarmos por agora o ambiente externo (turbulento), o quanto o planeta necessita da nossa força coletiva. A individuação em tempos de pandemia cai em desuso, temos a escolha de exercermos a caridade.

Tempos difíceis nos dão a oportunidade de olharmos para dentro para enxergarmos a centelha divina que nos foi colocada pelo TODO para sermos DIVINOS! Pois, o universo é amor! Se Darwin matou mesmo Deus ainda prefiro ficar com esta frase: “Amai ao próximo como a ti mesmo!”

Palavras de um biólogo.

segunda-feira, 10 de maio de 2021

 Seja um Pássaro

 

Se tem algo que me deixa possesso é ver um passarinho na gaiola. É certo que sou suspeito para afirmar isso por ser um ornitólogo, desde criança. No entanto, muitas pessoas compartilham deste sentimento. Imaginem um animal projetado para voar! Todo um aparato anatômico e morfológico para tal e alguém mal-intencionado coloca o bicho preso! Se for para cantar, canta de tristeza!

Talvez deveríamos nos perguntar se estamos também presos numa gaiola. O fato é que, assim como as aves também nascemos para voar. Como assim?

Vivemos num mundo onde a condição de sobrevivência depende muito da meritocracia e da competição incessante. Fomos educados a sermos competitivos e trabalharmos que nem um louco parar atingirmos o tal "sonho americano."  O que é um absurdo pensar já que possuímos, cada um, uma essência divina particular para contribuir com o mundo e retornar para o universo o que ele nos deu de melhor. Somos formais demais! Parecemos robôs numa linha de produção. Escravos de um sistema que nos deixam doentes, pois abdicamos de ser o que realmente somos!

Quem é você? 

A pandemia está nos deixando malucos por conta do confinamento. As redes sociais não suprem a necessidade das relações interpessoais. Nos foi imposto uma condição de eremita sem ao menos darmos conta do que vem a ser este arquétipo. O eremita nos faz repensar e refletir. Olhar para dentro e nos conhecermos. Será que tem gente que está aproveitando desta oportunidade? Somos uma espécie que caminha do homem animal para o homem espiritual. Herdamos instintos e um pacote de características daquele ser humano das cavernas que lutava para sobreviver. A emoção em detrimento a razão ditava as regras. Chamamos estas características de defeitos e não transformamos estes em virtudes pelo simples fato de sermos egocêntricos e escravos deste mundo que nos tornam mais próximos do homem das cavernas. Platão foi sábio à 600 a.c. em um dos seus capítulos da "A República" no "Mito da Caverna."

Devemos nos conhecer. Reconhecer e transformar tais defeitos em virtudes. Assim seguimos rumo ao ser espiritual. Isto é evolução e ferramenta para solucionarmos vários problemas do nosso cotidiano. Como resolvê-los se nem ao menos nos conhecemos? Liberte-se, "seja um pássaro!" Saia desta gaiola! Voe para a vida, para a liberdade de ser o que realmente você é de verdade! A felicidade mora nestas pequenas atitudes. Embora seja algo muito difícil. A reforma íntima é uma dádiva, a escolha e o sofrimento são opcionais.


canário-da-terra (Sicalis flaveola)





quarta-feira, 10 de maio de 2017

Asa-Branca





A asa-branca (Patagioenas picazuro) é a pomba que mais chama a atenção nos últimos anos em se tratando de aves urbanas. Assim como as maritacas essas pombas de tamanho avantajado não eram tão comuns na região Sudeste até a chegada dos anos 2000. Ressalto que não quero aqui afirmar números com precisão, são apenas dados de observação pessoal. A ideia deste blog é justamente a participação do leitor para confrontarmos as ideias e experiências. Lembro do meu pai nos anos 80 comentando sobre uma tal de pomba-legítima ou pomba-galega, uma tal pomba grande e rara de se ver (Sul de Minas). Não imaginava que seria a asa-branca.

Pois bem! A asa-branca é a maior das pombas brasileiras que ganhou certo destaque na canção popular de Luiz Gonzaga intitulada de "Asa-Branca", onde o compositor retrata a vida dura e ardente do sertão nordestino, pois até mesmo a Asa-Branca bateu asas do sertão, então eu disse adeus Rosinha, guarda comigo o meu coração".

Sua identificação é muito facilitada pela faixa branca que possui na asa, sobretudo quando está em voo. Aliás, o barulho do voo também chama muita atenção, o que facilita também, para os mais atentos, o registro da espécie.

Esta pomba ultimamente vem aumentando a sua área de distribuição no Sudeste devido à expansão agrícola. São aves que formam bandos enormes podendo percorrer grandes distâncias e em grandes altitudes. Sua alimentação baseia-se em sementes e frutos coletados no solo. Tal fato tem dado muita dor de cabeça para o produtor rural quando a asa-branca reúne-se em grandes bandos nas lavouras, especialmente milharais pós, colheita. É uma pomba bem adaptada às áreas abertas e em locais mais urbanizados, então o confronto com o homem é inevitável já que esta pomba acompanha o desmatamento e vê nessas áreas, oportunidade, certa de alimentação e reprodução. Esta afirmação é bem coerente quando se enxerga o mapa de distribuição da espécie no site  do wikiaves (https://www.wikiaves.com.br/wiki/pomba-asa-branca), a pomba praticamente desaparece em áreas totalmente florestadas, como se pode observar nos Estados restritos a região Norte.

É muito comum nas cidades, logo ouvir pela manhã a sua vocalização típica "huuuu hu huuuuuu" Em zonas urbanas a asa-branca possui hábitos solitários ou pode ser vista em casais, dificilmente em bandos como se vê em campo. É comum também observá-las dividindo o espaço de alimentação em comedouros com canários e rolinhas, o que demonstra a sociabilidade desta pomba adquirida em poucos anos. Eu particularmente vejo na asa-branca uma pomba exuberante! Enche-me os olhos observá-la, seja no campo ou nas cidades. Sua ascensão sulista se deu ao fato único e exclusivamente ao homem, responsável direto pela expansão de sua distribuição. Assim como ocorreu com outras aves, o homem perturba o ambiente e depois reclama das consequências.

 Eu quero é mais ver a asa-branca, fazendo o seu voo ao entardecer e anunciando a sua presença nas manhãs.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Voltou pra Ficar


Não me lembro do canário-da-terra-verdadeiro (Sicalis flaveola) antes da sua nova ascensão. Sabia da sua existência apenas em viveiros e gaiolas. Foi considerada uma espécie quase que extinta por aqui, no sul de Minas, muito visada e caçada devido ao seu grande apelo canoro e principalmente, pela sua linda plumagem amarelada, exclusiva do macho. É considerada entre as 10 mais apreendidas segundo relatórios do IBAMA. Tal característica marcante do amarelo lhe rendeu o posto de mascote da seleção brasileira de futebol com o slogan "seleção canarinho", muito bem explorado pela seleção de 1982.

Seu desaparecimento na época, deu-se por conta também, da intoxicação pelo uso abusivo de agrotóxico nas lavouras, já que o canário-da-terra é  uma espécie granívora, ou seja, alimenta-se de sementes, especialmente sementes de capins. É muito comum vê-los se alimentando em capinzeiros e pastagens de beira de estrada junto às coleirinhas, bigodinhos e tizius. Houve um tempo, em alguns lugares do sul de Minas que a lavoura de arroz foi dominante nas áreas mais alagadas. Talvez ali, tal fato foi preponderante para o desaparecimento da espécie devido ao uso do roundup glifosato.

No entanto, o fato é que o "canarinho" voltou, e com força total! A ponto de ocupar e disputar espaço com o pardal! Suas populações têm aumentado exponencialmente, principalmente em locais de grande movimentação humana nas zonas rurais onde o manejo de criações tornou-se o seu principal reduto por conta do trato de animais a base de grãos.

Nas cidades, sua movimentação é mais discreta, porém já se ouve em qualquer esquina. É comum acordar de manhã e passear pelas ruas e avistar um casal se alimentando.

O que o trouxe de volta? Em minha região, a uns 10 anos atrás, dificilmente se via canários nas cidades. Avistava-se eventualmente nas zonas rurais. A uns 20 anos então, não se via em lugar algum. As pessoas foram criando em cativeiro com o intuito de soltá-los gradualmente, principalmente proprietários de terra e donos de xácaras que aderiram à ideia e foram disseminando-a. O bicho foi se espalhando para todo canto com uma capacidade de reprodução incrível e grande habilidade em ocupação de espaço, basta pendurar uma cabacinha que logo já se vê uma fêmea fazendo o reconhecimento da futura chocadeira. 

É bem verdade, as Leis punitivas foram ficando mais rigorosas, embora ainda bem longe do ideal. O canarinho é tão querido que hoje se teme o fato do sujeito ser "dedurado" caso opte por caçá-lo e criá-lo em gaiola.

Segundo relatos de pessoas mais velhas, que já viveram o auge da espécie em outras épocas, o canário-da-terra de hoje voltou do cativeiro um pouco modificado em relação aos seus hábitos originais. O canário de hoje tem hábitos bem mais gregários, certamente por ter sido criado aos montes em cativeiro. Inclusive, segundo relatos desses mais antigos passarinheiros o seu canto voltou um pouco modificado. O fato é que ainda assim, já consegui ver disputas acirradas de machos por fêmeas em períodos reprodutivos onde é muito comum ver casais separados do bando.

Sua ocupação ostensiva não gera impacto, muito pelo contrário, é possível perceber o quanto a sua ascensão ajudou a controlar o ímpeto do pardal e das pombas, equilibrando assim as populações da avifauna urbana e rural. A presença do canário-da-terra nos inspira felicidade! Ao ouvi-lo solto nos dá a sensação de paz, pois sua presença purifica o ambiente de beleza e nos remete ao campo, em plena selva de pedra.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Bem vindo Sr. Cururu!


Dificilmente, nos dias de hoje, nos deparamos com sapos nas cidades. Aquele mesmo, o cururu, alvo fácil de agressão das pessoas. 

Se existe um bichinho injustiçado, esse bicho é o sapo. Baixinho, feio, barrigudo, não sabe andar... Verdade! Portanto, ninguém lembra que ele é muito útil e importante para o equilíbrio ecológico, justamente por ser um devorador nato de insetos. Aliás, não faz mal a ninguém - a menos que o agridam.

 Algumas espécies, como o cururu possuem hábitos domésticos, convivendo com patos e galinhas junto às sedes dos sítios e fazendas, ruas de cidades onde as luzes dos postes e das casas atraem maior quantidade de insetos.

 Quanto a tal fama, tudo invencionices e crendices. Sempre enalteci o sapo, sua importância, no entanto, só recebi chacota e repulsa.

Úteis como as aves só nos fazem o bem, alimentando-se de insetos numa quantidade igual à de uma ave insetívora. A sua população é bem mais superior à das aves, o que as torna mais efetivas no processo de equilíbrio da cadeia biológica. Alguns pesquisadores acreditam que apenas um sapo-cururu coma 5.000 insetos por semana!

 O duro é desfazer a imagem negativa do sapo: "Engolir sapo", por exemplo, é ouvir desaforo ou suportar uma coisa desagradável sem reagir. Ah!” Tem festa no céu,” sapo não entra!

Para ressaltar a importância do sapo na natureza, é que eles, como os cururus, não vivem somente no brejo, nas lagoas ou beira de rios. Existem espécies que habitam terrenos secos e florestas, o que amplia o seu campo de atuação no controle de insetos. Com certeza executa um trabalho extremamente útil à agricultura. Todavia, parece longe ainda o dia em que o pobre do sapo terá reconhecido o seu papel.

Ainda vemos pessoas malvadas que os chutam para longe, como se fossem bolas de futebol ou os fazem fumar cigarro até estourar! Bizarrices como jogar sal em suas costas. Isso não é tudo, o uso indevido de agrotóxicos está envenenando os sapos, rãs e pererecas, poluindo as suas águas.

Quando avistarem um sapo, contrate-o. Trabalha de graça, não reclama e é inofensivo.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Prática da Observação de Aves como Atividade Meditativa

Quando pensei na prática de observação aves com o intuito contemplativo, na época, não me atentei a meditação. Até então essa atividade só me despertava a curiosidade, mal sabia que ao observar as aves, durante longas caminhadas, munido de máquina fotográfica e binóculo eu já estava meditando. A meditação surgiu na minha vida durante a formação holística e gradualmente fui adentrando e conhecendo o universo desta prática milenar. Com a observação de aves pude perceber o quanto focamos a atenção plena no que estamos fazendo. Focamos no tempo presente e não deixamos que os pensamentos interfiram no nosso propósito. A ideia desta prática é justamente registrar as espécies utilizando dos sentidos básicos, da visão e audição.

Para os mais atentos, a prática não se limita apenas em registrar, leva-se em consideração também a observação comportamental da espécie - o que tal ave está se alimentando, seus hábitos reprodutivos, ecossistema ao qual ela se insere, modo como voa... enfim, tem para todo gosto. Tais comportamentos nos propõe ao foco, à atenção plena.


Quando saio para observar aves logo vem a sensação de bem-estar, de leveza. A natureza nos dá o feedback divino, pois nela encontramos os elementos necessários para a nossa paz interior. Aquela insatisfação inerente ao ser humano, logo é dissipada quando nos encontramos em pleno estado de contato com a natureza, seja com o barulho da água, seja na sensação de sentir o ar puro entrando e saindo, ou mesmo na percepção de identificar as vozes da mata. A prática da observação prevê o estado pleno de atenção ao separar as vocalizações das diferentes espécies. O trabalho meditativo já começa na postura do observador, na sua atenção ao caminhar para não fazer barulho, na sua preocupação em conhecer e identificar as espécies.

A observação de aves e o seu modo contemplativo nos carrega para o "agora", nos curas de qualquer ansiedade. As sensações positivas ao final das caminhadas são bem evidentes - esporte, lazer e muita troca de conhecimento, a prática nos põe em contato com o nosso "eu" a medida que as andanças tornam-se cada vez mais prazerosas. A contemplação da natureza nos dá a sensação e a certeza de que a vida pode ser bem mais simples, haja vista que o nosso remédio, é bem verdade, está muito perto, bem a nossa volta. Basta observarmos e usufruirmos desses elementos naturais com muita vontade. Vontade de entender, compreender as relações naturais e almejar pela nossa mudança interior.