quinta-feira, 10 de março de 2016

Pedralva no Terra da Gente

Em 2009, a Cemig, Companhia Energética de Minas Gerais S.A. decidiu implantar uma linha de transmissão passando pela Serra do Barreiro, cruzando a Serra da Pedra Branca. O Barreiro é uma serra paralela à Serra da Pedra Branca constituída de um grande fragmento de mata atlântica no município detentora de grande biodiversidade. Na época, com a ONG Grupo Excursionista Pedra Branca, decidimos criar um laudo técnico da biodiversidade local para barrarmos as pretensões da Cemig.

O que nos chamou a atenção foi o aparecimento do sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita), espécie endêmica da região Sudeste em vias de extinção, categoria vulnerável (VU) pela lista de espécies ameaçadas pelo COPAM (Conselho Estadual de Política Ambiental) e pela IUCN red list. É bem verdade, a espécie é muito comum na região, abrangendo poucas cidades, já que a invasão do sagui-de-tufos-pretos (Callithrix penicillata) pode ser a principal causa da ausência desse sagui em grande parte do Sudeste.

Lembro-me que esse sagui nos chamou mais a atenção foi pela sua peculiaridade, um tanto diferente dos outros membros da família o que logo me veio a cabeça entrar em contato com o Terra da Gente, um programa semanal, do grupo EPTV, afiliada da rede Globo.

Mandei um e-mail para o programa um tanto despretensioso, acreditando que não teria um retorno satisfatório. Descrevi o sagui e sua particularidade por aqui. Tempos depois recebo uma resposta do produtor do programa me escrevendo: "me fale sobre o macaco. " Logo após, o Terra da Gente pisava em Pedralva, em setembro de 2015, encabeçado pelo repórter Eduardo Lacerda para ver o sagui e retratar a biodiversidade da região, especialmente a Serra da Pedra Branca.




Pouco se sabe sobre a biologia desse primata. Ainda pouco descrita pela literatura, não sabemos ao certo o grau de interferência de suas populações. O fato é que a espécie perdura na região e pode ser observada em qualquer fragmento de mata. 

  

                                Foto: Devanir Gino

saguí-da-serra-escuro (Callithrix aurita).

Um dado interessante abordado na reportagem foi essa pererequinha de inverno. Pouco descrita pela ciência e provável residente da região de Poços de Caldas - MG, a espécie se limita numa localidade da Serra da Pedra Branca se estabelecendo em uma área de apenas 50 m².

                                        

Scinax sp.

A degradação ambiental, ostensiva pelo homem nas últimas décadas fez com que áreas florestais milenares deixassem de existir. Essas áreas, designadas matas primárias, são consolidadas como raras e altamente biodiversas, especialmente pelo histórico local, ou seja, foram centenas de anos de acúmulo de matéria orgânica, ciclagem de nutrientes e fluxo de energia.

A Serra do Barreiro possui uma pequena área em que é possível detectar uma mata primária. Árvores enormes, com pouca vegetação no solo e abundância de palmito-juçara (Euterpe edulis), espécie ameaçada dependente de áreas úmidas e sombreadas.


                                           


jequitibá (Cariniana sp.).

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