domingo, 8 de janeiro de 2017

Êxodo das Maritacas

Há exatamente 15 anos pouco se via ou ouvia maritaca em cidades do sul de Minas Gerais. Seu ingresso à vida urbana por aqui é recente sem ao menos dar indícios para as pessoas do real motivo do seu aparecimento. O nome popular "maritaca" é antigo no sul de Minas, diferentemente da sua designação popular na literatura a qual determina "periquitão-maracanã." Quando criança, nas andanças pela roça, lembro-me de avistar bandos de 30 a 40 aves voando e vocalizando. Algo na época realmente restrita às zonas rurais. O que ocorreu de fato para que esses animais pudessem invadir tão repentinamente as nossas cidades?

Não se sabe ao certo. No entanto, várias respostas podem ser coerentes ao analisarmos os impactos ambientais ocorridos nos últimos 500 anos. Aliás, um estresse ecológico pode ter sido o grande fator responsável pela migração das maritacas às cidades.

A repulsa por essa ave nas cidades tem sido enorme. É reclamação que não acaba mais! A maritaca possui o hábito de se acomodar nos forros das casas, gerando problemas como predação de fiação elétrica e responsável pela algazarra nas primeiras horas do dia, perturbando o sono de muita gente. É bem verdade, os forros podem ser vedados e a fiação elétrica protegida. Portanto, o fato é que as pessoas preferem reclamar e não solucionar. Preferem avaliar a situação de forma imediatista e não analisar as verdadeiras consequências desta invasão.

A maritaca ou periquitão-maracanã (Psittacara leucophythalmus) é uma ave da ordem dos Psittaciformes, junto aos papagaios, araras, periquitos e maracanãs. Encontrada em praticamente todo o Brasil, exceto em algumas localidades da região Nordeste, pela sua larga distribuição já nos dá um diagnóstico da problemática - é uma ave bem adaptativa não exigindo ambientes específicos. Como todos os membros da ordem apreciam frutas, não a polpa, mas sim as sementes. Portanto, não são dispersoras, são predadoras de sementes. Podem ser predadas por algumas espécies de gaviões, embora a carne desses bichos não seja tão apreciada. Sendo assim, o índice de predação desses animais em zonas urbanas é raro, já que encontramos também poucas espécies de gaviões em cidades. Tal fato favorece a grande incidência de maritacas nas zonas urbanas, pois quase não possui predador natural. A facilidade de acomodação nos forros e a pouca manutenção das casas propiciam a sua residência, além da quantidade expressiva de árvores e quintais em algumas cidades brasileiras, favorecendo-se assim a oferta de alimentos.

Em ambiente natural, a maritaca faz seus ninhos em ocos de árvores. A destruição da Mata Atlântica tem sido contínua, principalmente na região Sudeste, principal reduto atual da espécie. Um fato que deve ser observado é a pouca importância dada as árvores mortas, locais propícios para a nidificação de psittacídeos. O desmatamento frequente, a falta de alimentação e de estabelecimentos para a nidificação empurra as maritacas para as cidades. Não há outra explicação mais óbvia que explique tamanho êxodo desses animais. O certo é que devemos pensar o quanto temos sido negligentes com a natureza e a invasão das maritacas aos centros urbanos nada mais é que uma resposta imediata em relação aos nossos maus hábitos - de ganância, falta de conhecimento do campo e amor ao planeta.


     Foto: Fernando Capela

7 comentários:

  1. Prezado, além dos fechamentos das entradas nos forros dos telhados, como bem indicado, existe algo que possamos fazer para afungenta-las?

    Não gostaria de usar venenos ou outra coisa que pudessem prejudica-las.

    Obrigado por compartilhar o rico ensinamento do texto.

    Luiz Gustavo Corrêa.

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  2. Prezado, além dos fechamentos das entradas nos forros dos telhados, como bem indicado, existe algo que possamos fazer para afungenta-las?

    Não gostaria de usar venenos ou outra coisa que pudessem prejudica-las.

    Obrigado por compartilhar o rico ensinamento do texto.

    Luiz Gustavo Corrêa.

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    1. Luiz Gustavo, desculpe a demora aqui. Estou reativando novamente.
      Enfim, não há outra alternativa a não ser vedar os acessos e mudar a arquitetura das casas, pois é o que tem acontecido.

      Abraço

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  3. Amigo Capela. Volte a atualizar o blog. É um pérola. Abraço.

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  4. Legal, gostei de saber um pouco mais, principalmente sobre esse fato delas se alimentarem da semente e não da polpa. Aqui em Santa Rita do Sapucaí, um agricultor me falou sobre os plantios monoculturais de milho da região que não geram safra suficiente por causa das maritacas que comem todas sementes. Degradação de florestas e monocultura, não tem como dar certo tambem né.

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    1. Oi Gregory, desculpe a demora! Reativei o blog novamente por agora! Respondendo a sua pergunta, nunca é demais saber que, se algum ser vivo começa a incomodar, é sinal que algo no seu habitat está errado. Impacto ambiental com certeza!
      abraço!!!

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