sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

O Rei das Cidades



                                  Foto: Fernando Capela

                                                          

Segundo relatos históricos, em 1903, quando o Rio de Janeiro se portava como um vasto hospital, mergulhado em epidemias, o prefeito Pereira Passos autorizou a introdução do pardal (Passer domesticus) para que esse combatesse efetivamente as pragas que alastravam a cidade. Oswaldo Cruz, era o diretor-geral da saúde pública no país que na época coordenava as campanhas de erradicação da febre-amarela e varíola na cidade do Rio de Janeiro. Soube de um amigo influente de Portugal que por lá existia um passarinho generalista na alimentação e população abundante, que havia se espalhando pelo mundo. Oswaldo Cruz não pensou duas vezes e com o aval do prefeito o pardal foi introduzido na cidade do Rio de Janeiro se alastrando posteriormente pelo Brasil.

De qualquer forma, um dia ou outro tal fato aconteceria, pois, trata-se de uma espécie cosmopolita, ou seja, encontrada em todo o mundo, em diferentes climas e temperaturas. O fato de ser generalista certamente favoreceu a sua excelente capacidade adaptativa e reprodutiva.

Nas cidades formam bandos de até 100 indivíduos, pois possuem comportamentos variados, são altruístas e gregários, mas podem também ser solitários e territorialistas. Não tenho dúvidas que o pardal é a voz das cidades, não possui um canto, mas um piado característico, que começa nas primeiras horas do dia.

O pardal se especializou a vida urbana. É um oportunista nato, pois encontrou nas cidades o nicho ideal para o sucesso de sua espécie. Além de se alimentar de tudo, o pardal se especializou na arte de ocupar espaço, como diz no popular "não tem tempo ruim!" Inclusive, essa capacidade vem atrapalhando a reprodução de outras espécies como as andorinhas.

Na evolução, é comum verificarmos que algumas espécies migraram para outros locais, caso contrário não seria possível efetivar o surgimento de novas espécies. O pardal é um invasor que já faz parte da fauna brasileira, com uma particularidade importante: a medida que se avança para a zona rural suas populações vão diminuindo. Quanto mais preservado for o local menor será a probabilidade de se encontrar um pardal. O pardal evoluiu no acompanhamento das atividades do homem. Seria trágico se este invasor fosse apreciador de áreas mais naturais, mas não, prefere áreas que já se encontram alteradas pelo homem. Sendo assim, seu potencial invasor se funde ao cotidiano do homem pouco interferindo nas relações ecológicas de outras espécies. Talvez, o pardal seja o nosso grande leão de xácara das cidades, predando pragas e insetos indesejáveis, além de ser um ótimo catador de lixo.

Para os que reclamam das suas grandes populações, verão que o reinado nas cidades se vê ameaçado por outras espécies que chegaram para ficar. Pude observar, em função disso, que as populações de pardais tem diminuído significativamente. Embora ainda muito populosos os pardais vêm perdendo espaço para maritacas e canários-da-terra. Estes com populações reduzidas, mas que conseguiram de certa forma frear o ímpeto do pardal nas zonas urbanas.   

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Amigo ou Vilão?

O tucanuçu (Ramphastos toco) é uma ave típica que encanta os brasileiros pela sua beleza e pelo seu porte avantajado em relação a outros membros de sua família Ramphastidae. Apreciam a nidificação em ocos de árvores e outras cavidades naturais. É uma ave de hábitos frugívoros, mas que eventualmente aventura-se na predação de ninhegos, ou seja, filhotes de outras aves que ainda se encontram no ninho. Tal fato vem assombrando algumas pessoas, principalmente aquelas que em meio ao descanso do seu sítio se deparam com um tucano devorando um filhote de joão-de-barro na porta do ninho. Aliás, não vejo para tanto como desiquilíbrio o fato de predar ninhegos, como sabemos, na natureza para tudo se tem um motivo.

O tucanuçu, diferentemente dos outros tucanos e araçaris preferem áreas menos florestais. Não é certo afirmar que a ave é exclusiva do bioma Cerrado, pois consta na literatura sua distribuição na Mata Atlântica e parte da Amazônia. É bem verdade, nesses biomas existem ilhas de Cerrado e com o crescente desmatamento desses biomas ao longo dos anos esta espécie vem ampliando a sua área de atuação no Sudeste invadindo inclusive às zonas urbanas. Da mesma forma que as maritacas, não mais do que 15 a 20 anos atrás não se via tucanos com frequência. Eu lembro ter visto uma vez apenas quando criança e depois de um longo tempo, pude observar gradualmente a sua invasão em massa, seja nas cidades, seja nos campos.

Aqui no sul de Minas Gerais e em grande parte do Sudeste, o representante dos ramphastídeos que mais condiz com a Mata Atlântica é o tucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus). Este, está mais restrito às áreas mais florestais e serranas. Não se sabe ao certo das consequências desta invasão do tucanuçu em relação a essas espécies mais florestais, se há uma competição ou não, embora eu tenha avistado espécimes em bordas de mata pouco se adentrando para o interior. O fato é que os ecossistemas de ambos são bem distintos o que não garante uma tomada de território por parte do tucanuçu, por ser maior e supostamente dado como invasor.

Os membros desta família, infelizmente ou felizmente evoluíram na predação de ninhegos, o que também desmistifica a fama do tucanuçu de ser o vilão exclusivo deste ato alimentar. É comum ver investidas de tucano sem ninhos e a passarada unida se jogando ao ataque, entres eles bem-te-vis, suiriris, tesourinhas e outros caras. A desistência pelo ninhego é iminente. Certamente, este tucano tentará outros ninhos e mais uma vez será muito bem "recebido."

Assim como as maritacas, há um estresse ecológico evidente que empurra esses animais para novos lugares. Faltam mais árvores frutíferas nos campos e nas matas, o que certamente condiciona a espécie a explorar, e principalmente aumenta a predileção por ninhegos, o que melhor explica o seu hábito alimentar duvidoso por muitos e mais secundário em seu habitat natural e mais equilibrado.

Portanto, vamos enxergar o tucanuçu como uma ave que nos encanta pela sua beleza! Admirá-la e perceber o quanto é fotogênica pelas lentes! Vamos nos divertir quando seus ataques a ninhegos são interrompidos pelos outros pássaros. Se há responsáveis por essa invasão somos nós, os homens! Ávidos por consumo e produção desenfreada.


     Foto: Fernando Capela

domingo, 8 de janeiro de 2017

Êxodo das Maritacas

Há exatamente 15 anos pouco se via ou ouvia maritaca em cidades do sul de Minas Gerais. Seu ingresso à vida urbana por aqui é recente sem ao menos dar indícios para as pessoas do real motivo do seu aparecimento. O nome popular "maritaca" é antigo no sul de Minas, diferentemente da sua designação popular na literatura a qual determina "periquitão-maracanã." Quando criança, nas andanças pela roça, lembro-me de avistar bandos de 30 a 40 aves voando e vocalizando. Algo na época realmente restrita às zonas rurais. O que ocorreu de fato para que esses animais pudessem invadir tão repentinamente as nossas cidades?

Não se sabe ao certo. No entanto, várias respostas podem ser coerentes ao analisarmos os impactos ambientais ocorridos nos últimos 500 anos. Aliás, um estresse ecológico pode ter sido o grande fator responsável pela migração das maritacas às cidades.

A repulsa por essa ave nas cidades tem sido enorme. É reclamação que não acaba mais! A maritaca possui o hábito de se acomodar nos forros das casas, gerando problemas como predação de fiação elétrica e responsável pela algazarra nas primeiras horas do dia, perturbando o sono de muita gente. É bem verdade, os forros podem ser vedados e a fiação elétrica protegida. Portanto, o fato é que as pessoas preferem reclamar e não solucionar. Preferem avaliar a situação de forma imediatista e não analisar as verdadeiras consequências desta invasão.

A maritaca ou periquitão-maracanã (Psittacara leucophythalmus) é uma ave da ordem dos Psittaciformes, junto aos papagaios, araras, periquitos e maracanãs. Encontrada em praticamente todo o Brasil, exceto em algumas localidades da região Nordeste, pela sua larga distribuição já nos dá um diagnóstico da problemática - é uma ave bem adaptativa não exigindo ambientes específicos. Como todos os membros da ordem apreciam frutas, não a polpa, mas sim as sementes. Portanto, não são dispersoras, são predadoras de sementes. Podem ser predadas por algumas espécies de gaviões, embora a carne desses bichos não seja tão apreciada. Sendo assim, o índice de predação desses animais em zonas urbanas é raro, já que encontramos também poucas espécies de gaviões em cidades. Tal fato favorece a grande incidência de maritacas nas zonas urbanas, pois quase não possui predador natural. A facilidade de acomodação nos forros e a pouca manutenção das casas propiciam a sua residência, além da quantidade expressiva de árvores e quintais em algumas cidades brasileiras, favorecendo-se assim a oferta de alimentos.

Em ambiente natural, a maritaca faz seus ninhos em ocos de árvores. A destruição da Mata Atlântica tem sido contínua, principalmente na região Sudeste, principal reduto atual da espécie. Um fato que deve ser observado é a pouca importância dada as árvores mortas, locais propícios para a nidificação de psittacídeos. O desmatamento frequente, a falta de alimentação e de estabelecimentos para a nidificação empurra as maritacas para as cidades. Não há outra explicação mais óbvia que explique tamanho êxodo desses animais. O certo é que devemos pensar o quanto temos sido negligentes com a natureza e a invasão das maritacas aos centros urbanos nada mais é que uma resposta imediata em relação aos nossos maus hábitos - de ganância, falta de conhecimento do campo e amor ao planeta.


     Foto: Fernando Capela

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Terra da Gente: Marmelópolis

Foi um prazer e uma alegria imensa ter recebido a equipe do Terra da Gente na minha cidade, em Pedralva, sul de Minas Gerais. Bom mesmo, numa segunda oportunidade de participação minha no programa foi ter conhecido uma simpatia de pessoa, o Sr. Maeda. Um japonês dono da pousada (1.500 metros de altitude) onde nos hospedamos e que foi o centro e figura primária das gravações.

A cidade de destino desta vez foi Marmelópolis, também no sul de Minas Gerais, limítrofe com o estado de São Paulo, encravada na Serra da Mantiqueira.



Localização Pousada Maeda

A pousada é muito bem localizada, abaixo do ponto mais alto daquelas imediações, o "Marinzinho (2.432 metros de altitude)". Maeda construiu sua vida por aquelas bandas, escalando, explorando e abrindo trilhas, utilizando-se de sua larga experiência como montanhista. Sendo assim, montou um museu em sua própria pousada o que possibilita ao hóspede e/ou turista registrar suas andanças através de fotos e equipamentos de montanha deste senhor que já andou muito por esta América do Sul ainda quando jovem. Até que o destino lhe reservou cair de para-quedas numa cidade pacata do sul de Minas Gerais. Maeda, ao lado de sua esposa Karina, dedicou sua vida a pousada e as belezas daquela região. Desbravou as trilhas as quais hoje muito são utilizadas e apreciadas pelo turismo - do Marins à Pedra da Mina entre outros lugares paradisíacos típicos da Serra da Mantiqueira que nos contemplam com a altitude, o frio, a biodiversidade e a paz de espírito.


     Foto: Fernando Capela

Sr. Maeda

Maeda representa o homem do campo das montanhas - a humildade e tranquilidade de quem preserva a natureza e ama o que faz.


     Foto: Fernando Capela

Pousada Maeda e o Marinzinho ao fundo.


     Foto: Terra da Gente

Equipe da reportagem






A Pousada Maeda está localizada no bairro Serra dos Ramos. Telefones para contato: Fone (19) 32526834 ou (35) 99498803 
Marmelópolis - MG.



quarta-feira, 13 de abril de 2016

Observação de Aves - Saiba mais!

A observação de aves ou birdwating é uma prática que envolve milhões de pessoas em todo o mundo. Nenhum outro grupo animal silvestre exerce maior atração sobre as pessoas, para a sua simples contemplação.

A observação de aves é uma importante atividade de conexão entre ciências biológicas, turismo e educação ambiental. É uma alternativa de lazer o qual vem sendo gradualmente divulgada no Brasil. A atividade traz estímulo intelectual e espiritual, envolvendo caminhadas ao ar livre, com maior ou menor grau de dificuldade e contato com a natureza. Ou seja, reúne ingredientes que reconhecidamente são fundamentais para melhorar a qualidade de vida das pessoas e desenvolver o turismo local.

A observação de aves é um segmento da atividade turística, que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva a sua conservação e busca a consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas. É uma excelente atividade que influi positivamente no estado físico e emocional das pessoas. É a conexão direta com o meio natural, praticando exercício e estimulando o conhecimento.



No Brasil essa atividade vem ganhando força nos últimos anos devido a sua grande diversidade de espécies.  É uma atividade bastante difundida na Europa e América do Norte, o qual tem gerado mais de 30 bilhões anuais na economia só nos Estados Unidos.  A prática de observação da fauna é considerada a prática mais sustentável dentre todas as que são identificadas como ecoturismo, e, destas, a observação de aves constitui a mais difundida e a mais amplamente praticada em todo mundo, principalmente, nos países mais desenvolvidos. 

Todo lugar é interessante de se ver aves, mas certamente as unidades de conservação são os preferenciais, por serem, em geral áreas naturais preservadas. A Mata Atlântica, por exemplo, é conhecida mundialmente por sua grande biodiversidade.

Vale ressaltar que a prática de observação de aves não se limita apenas às pessoas formadas nas áreas de biologia, meio ambiente ou turismo. Qualquer pessoa é capacitada para a prática contanto que se posicione de forma satisfatória de seus atos e conduta perante a natureza.



segunda-feira, 11 de abril de 2016

Conduta Ética do Observador

Deve-se considerar, como premissa básica da observação, que nenhuma ave deverá ser incomodada. A aproximação diante de ninhos e aves em processos reprodutivos deverão ser evitados. A observação responsável pretende fazer com que o observador leve uma imagem satisfatória da atividade. Levando-se em consideração a preservação e o bom estado ambiental. O observador como um ecoturista nato deverá evitar qualquer tipo de dano ao local utilizado para a prática.

O andar deve ser silencioso, pois gestos rápidos e bruscos assustam as aves. No interior de mata, o andar deve ser mais cauteloso, devido às folhas secas e galhos no solo. Quanto mais lentos forem os movimentos, maior a oportunidade de se aproximar das aves. Ansiedade é um defeito que não compactua com a observação de aves. O ansioso quer ver a espécie o mais rápido possível, perde a paciência, faz barulho até resolver ir embora. É certo afirmar que a própria prática, com o tempo, serve de terapia para extirpar a ansiedade. As primeiras vezes podem ser frustrantes, devido à inquietação das aves, principalmente as de ambientes mais florestais. À medida que o observador vai aumentando suas saídas para campo os sentidos vão aumentando proporcionalmente.

Por questão de segurança, sempre é bom fazer os passeios de observação acompanhado por uma ou algumas pessoas. A limitação de pessoas facilita também no bom andamento da observação, pois, menos pessoas menos chances de afugentar as aves.

A tolerância das aves com a presença humana vai depender da espécie ou da época do ano. Portanto, o observador deverá ter cautela para não alterar o comportamento das aves como evitar falar demais e elevar o timbre da voz. Somente se faz necessário a comunicação com assuntos relacionados sobre a observação.

As Leis são excelentes suportes que dão respaldo as atividades de observação. Conhecer as Leis de Conservação e Proteção são requisitos básicos para o observador que almeja colecionar avistagens.

Portanto, o observador, como ecoturista possui a credencial de que essas Leis não sejam esquecidas.

 - Lei da Área de Proteção Ambiental – número 6.902 de 27/04/1981.

- Lei de Crimes Ambientais – número 9.605 de 12/02/1998.

- Lei das Florestas – número 4.771 de 15/09/1965.

- Lei da criação do IBAMA – número 7.735 de 22/02/1989.

- Lei Patrimônio Cultural – decreto-lei número 25 de 30/11/1937.

- Lei da Ação Civil Pública – número 7.347 de 24/07/1985.


sábado, 9 de abril de 2016

Quando observar Aves

Basicamente, podemos avistar aves a qualquer hora do dia, em qualquer época do ano.  Alguns horários são melhores para a observação, pelo fato de que as aves estão mais ativas, como ocorre logo nas primeiras horas da manhã e nas últimas horas do dia (entre 06:00 às 10:00 e no final da tarde, das 15:00 às 18:00 horas). No entanto, muitas espécies estão ativas durante todo o dia e há, naturalmente, as espécies noturnas.

Também há épocas do ano melhores para as observações, que são os períodos reprodutivos que se iniciam no final do inverno boreal, início da primavera estendendo ao longo do verão, o mesmo dizer período chuvoso.

                                


                                              sabiá-do-banhado (Embernagra platensis)